Atualmente muito se fala sobre a importância de criar um ambiente acolhedor para o erro no processo de aprendizagem e construção do indivíduo. A receptividade deste tema, quase sempre é boa, visto que a contribuição positiva do erro no processo de desenvolvi-mento humano é indiscutível. Porém, na prática, esta tarefa é bem mais complexa do que parece.
Nossa cultura e a culpa!
Em uma cultura onde errar está diretamente relacionado a “pagar pelo erro”, olhar com sinceridade para nossas falhas é emocionalmente delicado e refletir sobre as nossas fragilidades gera um incômodo psíquico, incômodo este que, se mal administrado, pode inclusive nos adoecer.
Isto acontece porque, o sentimento de culpa é construído em nós desde muito cedo, não só pelos nossos erros mais concretos como, por exemplo, quebrar algo da mamãe, mas também pelas nossas necessidades, carências, impetuosidades, sempre tão afloradas e genuínas na nossa infância. Neste cenário, a culpa que desenvolvemos, é, senão o maior, um grande desafio neste processo de renovar o olhar que atribuímos ao erro.
Pois, embora a compreensão das nossas responsabilidades nos resultados, alcançados ou não, seja crucial para uma tomada de decisão mais assertiva, se esta mesma compreensão não vem acompanhada de acolhimento e empatia, incorremos no risco de minar as perspectivas positivas que podem surgir com a reflexão das nossas ações.
Mas e quando a falha é do outro?
Como é possível acolhermos os erros dos nossos filhos, companheiros e amigos, sem que pareçamos permissivos e/ou negligentes?
Como criar um olhar positivo para o erro dos meus educandos sem que isso gere um ambiente repleto de desorganização e indisciplina?
Como superar o medo de andar nesta linha tão tênue entre o aceitável e o inadmissível quando eu sou a liderança de uma grande equipe?
Buscando responder esses e outros questionamentos, Amy C. Edmondson, codiretora da unidade Technology and Operations Management da Harvard Business School, nos EUA, criou uma ferramenta chamada “espectro de razões para o erro” (abaixo), com o objetivo de classificar, as razões e não as ações, em uma sequência que vai de louváveis a condenáveis. Poderíamos aqui, discorrer por um longo período sobre a importância deste titulo que visa compreender a razão por trás da ação, mas deixo esta parte para um texto futuro. Por hora, vamos nos ater a relevância deste espectro para o entendimento das inúmeras possibilidades que resultam no erro.
Inicialmente, a ideia de que existem erros louváveis, pode nos causar certa estranheza, mas se conseguirmos nos livrar da premissa da culpa e da obrigatoriedade de pagarmos por qualquer erro cometido, logo vamos percebendo que sim, existem erros poderosos na concepção do êxito.
Outro ponto observável neste espectro é que ele se enquadra a qualquer tipo de convivência, seja esta entre pais e filhos, educadores e educandos, líder e liderados... Não importa qual o nível de relação, se pudermos estabelecer um olhar mais afável às falhas do outro , ganhamos em termos de responsabilização e resultados, uma vez que possibilitamos a identificação da causa e a possibilidade de aprendizado a partir de cada uma delas, afinal, “fail often, fail fast” (falhe sempre, falhe rápido), não é o lema do Vale do Silício por acaso.
Por fim, tenha coragem!
A percepção de que todos os grandes feitos partem de feitos menores é uma sabedoria indispensável, mas só saber não basta, é preciso agir na direção deste propósito. Portanto, tenha coragem de encarar esta jornada desafiadora rumo as suas falhas e as dos outros, estabelecendo em sua vida, relações construtivas interna e externamente.