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Opinião ——

A Palavra do Outro - mais um texto da Paula Desgualdo

Paula Desgualdo

17 de dezembro de 2018

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Estive refletindo sobre a escuta. Às vezes, antes de contar uma história para as crianças, em uma mediação de leitura ou oficina, a gente esfrega as palmas das mãos e depois usa esse calorzinho para aquecer os ouvidos. Um pouco de quentura e silêncio para amplificar a escuta. Para ouvir o outro.

“Outro” é algo ou alguém que se encontra fora do âmbito do falante e do ouvinte. Que se contrapõe ao definido, ao conhecido. Outros tempos, outras pessoas, outros lugares, outras experiências... Isso não sou eu quem diz, é o Houaiss, o dicionário. Mas o fato é que tem um caminho para chegar até o outro. É sobre essa ponte que tenho pensando.

Porque não existe escuta se essa conexão não se estabelece. Se o que entra pela caixa acústica dos ouvidos não reverbera no coração, algo permanece incompleto.


Toumani Kouyaté, grande artista griot nascido em Burkina Faso, na África, diz que a palavra que entra pelas orelhas é a que fala diretamente ao coração: “(...) e essa palavra não tem verdade maior.” O outro, em seu universo próprio, com sua história, sua visão e seus sentimentos, é uma oportunidade de lidar com a complexidade do mundo, de aprender. Saber ouvir é se permitir ser atravessado (e transformado!) pela informação que a palavra-verdade alheia traz. O outro, e aqui volto ao dicionário, também é a possibilidade do novo – um novo que inclusive pode não fazer o menor sentido para você.

Acredito que, para escutar as múltiplas vozes de fora, antes é preciso escutar e conhecer o diverso dentro de nós mesmos. As muitas pessoas, vontades e emoções que nos habitam. E ficar à vontade com elas, confortável. Para isso tem outra coisa ótima para fazer com as crianças: a respiração da abelha. De olhos fechados, tapamos os ouvidos com os dedos indicadores e fazemos um zumbido de abelha durante alguns minutos. Esse é um pranayama, uma técnica respiratória milenar. Acalma que é uma maravilha. A calma interna é terra fértil para a presença e a escuta, capazes de promover grandes curas, de estabelecer pontes profundas e firmes entre um coração e o outro.

As crianças aqui são só desculpa. O que vale para elas vale para a gente também. Na verdade, agora entendi que eu queria mesmo era fazer um convite. Esfregue aí as palmas das mãos, aqueça os ouvidos e experimente, com o melhor da sua presença, escutar a palavra do outro. O mundo está precisando – e a gente pode fazer melhor do que vem fazendo.

 

 

Paula Desgualdo

é jornalista, escritora, viajante, mestranda em educação e coautora da série Quem Manda Aqui?, uma produção coletiva de livros sobre política para crianças.


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