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Opinião ——

A psicanálise e suas empatias

Carla Rigamonti

27 de junho de 2016

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Minha curiosidade sobre a empatia na Psicanálise veio sem-querer-querendo, quando estudando um texto, deparei com a seguinte citação: “Uma outra suspeita nos dirá que estamos muito longe de haver esgotado o problema da identificação, que nos achamos frente ao processo que a psicologia de ‘empatia’, que participa enormemente na compreensão daquilo que em outras pessoas é alheio ao nosso Eu”. O texto é de 1921 (Psicologia das massas e análise do eu) e o tema nesse subcapítulo é a Identificação, colocada por Freud como um dos fatores estruturantes da massa: “Já suspeitamos que a ligação recíproca dos indivíduos da massa é da natureza dessa identificação através de algo afetivo importante em comum...”.

É interessante ressaltar a noção de “ver no outro algo alheio a mim”: há então na empatia o fator de não haver algo em comum, a saber, a diferença que promove a compreensão de outro, que não eu. Por isso quando falamos em empatia, pensamos na diferença e, ao mesmo tempo, na semelhança: respeito o outro por ele ser um humano, como eu, apesar de ser também diferente, seja em termos de aparência física, forma de enxergar o mundo ou mesmo de posicionamento político (aliás, haja empatia nas discussões políticas da atualidade).

Na psicanálise, que é a prática de ouvir o outro a partir dele mesmo e do que ele sabe ou não sabe sobre si, a postura empática é fundamental. De acordo com Nelson Ernesto Coelho Junior, em trabalho sobre a empatia:

"A experiência do ‘sentir com’ (tradução literal do alemão Einfühlung) já aparecia designada pelos gregos em seu vocábulo empatheia, origem de nossa expressão empatia, indicando a enigmática possibilidade de estar dentro, estar presente, viver com e como o outro o seu pathos, paixão, sofrimento e doença”.

A noção de colocar-se num lugar de escuta neutra e atenta é fundamental para o estabelecimento da transferência, considerada por Freud o motor do tratamento analítico. De acordo com o autor : “É certamente possível sermos privados deste primeiro sucesso se, desde o início, assumirmos outro ponto de vista que não o da compreensão simpática, tal como um ponto de vista moralizador, ou se nos comportarmos como representantes ou advogados da parte litigante – o outro cônjuge, por exemplo”(1913)

A partir da minha experiência de trabalho com pais e mães de crianças surdas, entendo que a empatia é fundamental em qualquer tratamento. Ouvir o outro sem julgamentos e colocar-se em seu lugar tem um efeito de aproximação que é terapêutico em si, a saber, a percepção de sentir-se escutado. Quando tal relação não é estabelecida no contato com o outro, os pais em geral sentem algo de diferente: a não empatia tem efeitos nas trocas, nas orientações e na forma como os cuidadores conseguirão ou não seguir o que foi proposto pelo profissional. Quando há uma exigência por parte dos profissionais que os pais façam mais do que está além de seus recursos concretos e subjetivos cai-se facilmente numa posição de culpa e falta .

Enquanto conceito teórico, prática clínica ou postura pessoal, a empatia só tem a nos acrescentar. Carrego comigo todas as histórias que ouvi ao longo desses anos, e em variadas situações pessoais me vêm a mente frases que ouvi das mães das crianças com quem trabalhei. Precisamos passar pelo que as pessoas passaram para entender o que elas sentem? Não. Mas precisamos, sim, ter abertura, confiança no outro, e reiterar as experiências de cada um como singulares e genuínas. Para mim, empatia tem tudo a ver com isso.

 

 

Carla Rigamonti

Sou psicóloga e diretora clínica do Instituto Escuta. Tenho mestrado em Psicologia Clínica pela PUC-SP, faço Psicánalise no Sedes e atendo em consultório particular. Sou encantada pelas falhas e possibilidades da comunicação.


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