Uma das coisas que mais gosto na vida são as surpresas que ela apresenta. Arco-íris no céu, gentileza na rua, um telefonema e pequenos gestos de carinho. Tudo isso para nos lembrar que a vida não é, em absoluto, tanta guerra, tanta discriminação, tanta corrupção. Tanta falta da própria vida. E nessas surpresas da vida, recebi o texto Serenidade no Caos, da Katia Geiling, acompanhado de uma simples frase: Você faz a diferença!

Só isso, já seria motivo suficiente para escrever sobre a capacidade do ser humano ser tão bom e, ao mesmo tempo, tão cruel. Mas o texto que recebi de presente traz o relato de iniciativas que resgatam a infância através da arte e do brincar em situações caóticas. Mais uma vez a bondade e a maldade, juntas, alternando forças.

“Com atividades simples, baseadas na pedagogia Waldorf, eles recuperam a confiança e a alegria das crianças em lugares onde o sofrimento parece infinito.”

Começa com a descrição do cenário: Sobreviventes do terremoto no Nepal no ano passado - foco especial para um menino de 6 anos. Nessa realidade, voluntários chegam para trabalhar com as crianças. Um trabalho sério: brincar. Trazer de volta a imaginação, o sorriso e o sonho para elas. Uma forma de acessar suas dores mais profundas e, através da arte e do brincar, conseguir, na simplicidade da sua compreensão, ajudá-las a olhar esses sentimentos confusos e sufocados. - A descrição de como eles foram recebidos e o desdobramento das atividades não formaram uma cena imaginada mas, a lembrança de como é. Das experiências com as crianças que já passaram pelas oficinas de Carlotas nesses quase 3 anos de trabalho.

A história da pequena Khalida, do Iraque, se assemelha com o nosso Eric, com o início da elaboração de seus traumas através do lúdico. Claro que é só o início, mas a porta de entrada e o canal de mobilização dessas questões profundas pode - e deve - ser feito através do brincar e da arte.

“E o brincar pode, sim, ajudar a criança na superação do trauma. Ele possibilita uma reconstrução. Posso fazer o mundo de outro jeito quando eu brinco.”

Transformar o mundo. Foi esse o convite que eu aceitei ao fazer parte de Carlotas. E descobri que o mundo todo começa com um gesto, com uma gentileza, com as pequenas surpresas da vida e que a mesma pessoa, capaz de um ato cruel, é capaz do mais grandioso gesto de generosidade. Cabe a cada um fazer suas escolhas, surpreender e se deixar surpreender.